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Cacau no Brasil: viabilidade, sustentabilidade e oportunidade estratégica em um mercado global em transformação

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Por CNA 19 de maio 2025
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A cacauicultura mundial atravessa um período de reconfiguração. A queda na oferta global, resultante de condições climáticas adversas e desafios fitossanitários, vem pressionando a oferta e elevando os preços internacionais do cacau a patamares históricos. Nesse cenário, o Brasil se apresenta como um dos poucos países com condições de expandir a produção de forma sustentável, alinhado às exigências internacionais por produtos com rastreabilidade e menor impacto ambiental.

A produção mundial de cacau sofreu uma queda expressiva de 11% entre os anos-safra 2022/23 e 2023/24, passando de 5,04 para 4,49 milhões de toneladas, segundo estimativas da International Cocoa Organization (ICCO). Essa retração foi puxada principalmente pela África Ocidental, com destaque para a Costa do Marfim e Gana, que enfrentam problemas climáticos e fitossanitários.

Apesar da queda na produção, a moagem global se manteve relativamente estável em 2023/24, o que levou a uma redução significativa nos estoques finais. A relação estoque/moagem está projetada em 27%, o menor patamar dos últimos 46 anos, pressionando ainda mais os preços internacionais do cacau. Esse movimento de alta nos preços já começa a impactar o mercado, com sinais de retração na demanda e, consequentemente, na moagem.

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Gráfico 1: Evolução da produção, moagem e relação estoque/moagem - 2014 a 2024.
Fonte: ICCO.
Elaboração: CIM/UFLA.

O mercado internacional de cacau registrou cotações recordes em 2024, impulsionadas pela escassez de oferta. Este contexto cria uma oportunidade significativa para o Brasil ampliar sua produção – hoje com cerca de 4% da participação mundial – e sua presença nos mercados externo e interno. Para isso, é essencial aumentar a eficiência produtiva, expandir áreas de cultivo e superar os desafios que limitam a competitividade do setor.

Os dados atualizados do projeto Campo Futuro (Sistema CNA/Senar) apontam quatro modelos de produção com variações significativas de custo por arroba (R$/@), produtividade e receita bruta. O levantamento original foi realizado em 2023, com atualização dos preços dos principais insumos (mão de obra, combustíveis, fertilizantes, defensivos) para fevereiro de 2025, refletindo com maior precisão o cenário atual do produtor.

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Gráfico 2: Comparativo de custos e receitas por modelo produtivo - Altamira (baixo e médio), Eunápolis, Ilhéus.
Fonte: Projeto Campo Futuro (CNA/SENAR).
Elaboração: CIM/UFLA.

Os dados evidenciam diferenças significativas de produtividade entre os sistemas analisados. Os modelos de Altamira mostram como o grau de tecnificação influencia diretamente o desempenho: enquanto o sistema de baixa tecnificação atingiu 66,66 @/ha, o modelo de média tecnificação alcançou 148,14 @/ha. Já em Eunápolis, com sistema altamente tecnificado e regime de trabalho contratado, a produtividade chegou a 150 @/ha, sendo o mais eficiente entre os avaliados. Por outro lado, o modelo de Ilhéus, operando em sistema cabruca com baixa tecnificação e parceria, obteve apenas 12 @/ha.

Essas variações demonstram o amplo potencial de melhoria na eficiência produtiva, especialmente em regiões com baixos índices de produtividade. Investimentos em capacitação técnica, assistência técnica rural e modernização dos sistemas podem elevar substancialmente a produção nacional sem necessidade de ampliação desordenada de áreas.

A eficiência dos sistemas também está relacionada ao regime de trabalho. Modelos com mão de obra contratada e gestão mais profissionalizada tendem a apresentar melhores indicadores de produtividade e controle de custos.

O uso predominante de sistemas agroflorestais (SAFs) e o sistema cabruca são diferenciais importantes do Brasil. Esses modelos promovem a conservação da biodiversidade, recuperação de áreas degradadas e sequestro de carbono.

Com um parque moageiro com capacidade superior à produção nacional, o Brasil ainda complementa sua demanda com importações de amêndoas.

O gráfico a seguir apresenta a produção nacional, a moagem, o déficit e a simulação de valor importado para suprir essa lacuna, considerando o valor médio da tonelada na bolsa de Nova York no período de outubro a setembro de cada ano-safra. De acordo com os dados, no ano-safra 2022/23, o Brasil precisou importar aproximadamente US$ 113,8 milhões, com base no valor médio de US$ 2.845,87 por tonelada. Para o ano-safra 2023/24, estima-se que esse valor tenha saltado para US$ 253,2 milhões, com o preço médio da tonelada atingindo US$ 6.330,38. A previsão para 2025 indica um déficit de 10.000 toneladas, o que representa uma necessidade de importação estimada em US$ 181,4 milhões, considerando a cotação média de US$ 9.071,75 por tonelada.

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Gráfico 3: Capacidade de moagem x produção nacional, déficit e valor de importações por tonelada (2022/23 a 2025).
Fonte: TradeMap.
Elaboração: CIM/UFLA.

Esses números demonstram a dimensão do mercado interno ainda não explorado e reforçam a oportunidade para que os produtores brasileiros ampliem sua participação na cadeia, tanto no abastecimento nacional quanto como estratégia de inserção no mercado externo.

Entretanto, o setor enfrenta desafios que precisam ser superados para concretizar esse potencial. A logística de escoamento ainda é um gargalo importante para a competitividade do cacau brasileiro, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. Exemplos como a BR-163 no Pará e a infraestrutura dos portos de Ilhéus ilustram os entraves. Investimentos em estradas, armazenagem e transporte fluvial são essenciais para reduzir perdas e custos.

De acordo com o Plano Inova Cacau 2030, o Brasil tem condições reais de dobrar sua produção nos próximos anos, com a meta oficial de superar as 400 mil toneladas anuais até 2030. Esse avanço pode ser viabilizado por meio da expansão em áreas degradadas com SAFs; investimentos em assistência técnica e crédito rural; fomento à pesquisa e inovação (CEPLAC); valorizacão do cacau fino e regionalizado, e políticas de infraestrutura e logística integradas ao setor.

A cacauicultura brasileira encontra-se em um momento estratégico, respaldada por diretrizes nacionais como o Plano Inova Cacau 2030, que, com a participação dos diferentes elos da cadeia de valor, inclusive da CNA, estabeleceu metas de crescimento sustentável com foco na ampliação de áreas plantadas, recuperação e renovação das áreas cultivadas, qualificação da produção e agregação de valor à cadeia produtiva.

Com preços elevados no mercado internacional, estoques globais reduzidos, margens atrativas ao produtor e uma produção que alia sustentabilidade à qualidade, o setor está diante de uma janela de oportunidade para consolidar o Brasil como protagonista global. Com organização, investimento e apoio, é possível transformar o Brasil de importador a referência mundial em produção sustentável e de qualidade.

Para alcançar a meta de produção superior a 400.000 toneladas anuais de cacau, conforme estabelecido pelo Plano Inova Cacau 2030, é necessário avaliar cuidadosamente os custos de investimento e a área de expansão necessária para cada modelo produtivo. Com base nos levantamentos do Projeto Campo Futuro, realizou-se uma simulação que considera as diferentes produtividades dos sistemas analisados e as respectivas necessidades de ampliação de área.

A tabela a seguir apresenta as localidades monitoradas, destacando o investimento necessário por hectare, a área de expansão estimada e o capital total necessário para viabilizar o aumento da produção. Inclui-se também um valor simulado para o potencial produtivo de um dos modelos após adequações de manejo.

Tabela 1. Estimativa de Investimento para Dobrar a Produção de Cacau no Brasil.

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Fonte: Projeto Campo Futuro (CNA/SENAR).
Elaboração: CIM/UFLA.

Os dados apresentados na tabela indicam que os valores necessários para ampliar a produção de cacau variam significativamente conforme o modelo produtivo adotado. Os sistemas de alta produtividade, como os de Eunápolis e Altamira (médio), demandam menor área de expansão e, consequentemente, menor capital total. Por outro lado, sistemas com menor eficiência, como o Cabruca em Ilhéus, requerem áreas significativamente maiores, refletindo em investimentos mais elevados.

Essas estimativas reforçam a importância de estratégias focadas na tecnificação e na adoção de práticas agrícolas mais eficientes, reduzindo custos e otimizando a ocupação do território. A escolha do modelo produtivo adequado e o planejamento da expansão são determinantes para viabilizar o crescimento sustentável da cacauicultura brasileira.

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